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sábado, 17 de janeiro de 2015

Assassinato de Mãe

Eu tinha 7 anos quando matei minha mãe pela primeira vez.
Eu não queria junto a mim quando chegasse à escola em meu
primeiro dia de aula.
Eu me achava forte o suficiente para enfrentar os desafios, que
a nossa vida iria me trazer.
Poucas semanas depois descobri aliviado que ela ainda estava lá,
pronta para ne defender não somente daqueles garotos brutamontes
que me ameaçavam, como das dificuldades intransponíveis da tabuada.
Quando fiz 14 anos eu a matei novamente.
Não a queria me impondo regras ou limites, nem que me impedisse de
viver a plenitude dos vôos juvenis.
Mas logo no primeiro porre eu felizmente a redescobri viva, foi quando
ela não só me curou da ressaca como impediu que eu levasse uma vergonhosa
surra de meu pai.
Aos 18 anos achei que mataria minha mãe definitivamente, sem chances para
ressureição.
Entrara na faculdade, iria morar em república, faria política estudantil, atividades
em que a presença materna não cabia em nenhuma hipótese.
Ledo engano.
Quando descobri confuso sobre qual rumo seguir voltei à casa materna, único espaço
possível de guarida e compreensão.
Aos 23 anos me dei conta de que a morte materna era possível, apenas requeria lentidão...
Foi quando me casei, finquei bandeira de independência e segui viagem.
Mas bastou nascer a primeira filha para descobrir que o bicho mãe se transformara numa
espécime ainda mais vigoroso chamado avó.
Para quem ainda não viveu a experiência, avó e mãe em dose dupla...
Apesar de tudo continuei acreditando na tese da morte lenta e demorada, e aos poucos
fui me sentindo mais distante e autônomo, mesmo que a intervalos regulares ela reaparecesse
em minha vida desempenhando papéis importantes e únicos, papéis que somente ela
poderia protagonizar...
Mas o final dessa história, ao contrário do que eu sempre imaginei, foi ela quem definiu:
quando menos esperava, ela decidiu morrer.
Assim, sem mais, sem menos, sem pedir licença ou permissão, sem data marcada ou ocasião
para despedida.
Ela simplesmente se foi, deixando a lição de que mães são para sempre.
Ao contrário do que sempre imaginei.
São elas que decidem o quanto esta eternidade pode durar em vida, e o quanto fica
relegado para o etéreo terreno da saudade.



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